E quando deflagrada, não percebemos sua origem e nos preocupamos somente com suas consequências.
Não foi o atual governo grego que escondeu os números, mas a culpa nele recaiu.
De todos os estados europeus que fazem parte da zona do euro, somente um manteve sua estabilidade econômica passando a ser seu sustentáculo há alguns anos.
País este, provocador das duas grandes guerras, dizimado por duas vezes, reconstruído pela segunda vez sob a vergonha do que foi feito em seu nome no passado próximo.
Dividido, reunificado, resiliente, tornou-se uma só nação para todos os seus cidadãos.
Com a Europa em frangalhos financeiros, tornou-se ator principal neste novo enredo, desempenhando um papel de liderança positiva e acertiva perante a crise global.
Políticos populistas, por ali também existem, jogam toda a culpa por sua incompetência na líder protagonista, levando seu povo a fazer o mesmo.
Como Saramago já escreveu, cegos por não enxergarem a razão de tudo.
Enquanto isso, los hermanos despertam de um sonho tornado pesadelo e voltam a bater em suas panelas reivindicando o retorno da democracia de fato e de direito aqui do lado.
Quanto a nós, passivos ficamos frente a má qualidade dos serviços públicos e de seus gestores que pouco fazem para solucionar nossos problemas e aguardam, passivamente, acumularem-se ou agravarem-se para tomarem uma decisão.
Afinal de contas, para que solucionar um problema enquanto este ainda não se tornou grande o suficiente para provocar uma reação midiática e passar desapercebido.
O que vale para mim, nem sempre vale para você - é assim o seu mote.
Confesso, não sei em qual dos meus blogs deveria postar este texto.
Embora trate sobre um tema no qual atuo profissionalmente e que me agrada - o esporte, o texto caminha, também, por uma questão mais abrangente que, igualmente, me fascina.
Façamos, então, o seguinte: tendo o esporte como enredo, como cenário representativo de um contexto social mais amplificado, proponho que façamos uma análise crítica sobre algumas alegações éticas e morais que acabam por transcender as regras e regulamentos do jogo, e até mesmo a legislação nacional.
O fato motivador ocorreu durante o jogo pelo Campeonato Brasileiro da Série A 2012, entre o Palmeiras e o Internacional.
Numa cobrança de escanteio, um dos principais jogadores do Palmeiras - Barcos, o "pirata" - utiliza-se de um recurso não permitido pela regra do jogo e faz um gol com a mão simulando um cabeceio.
Assim que a bola entra, o "jogador-pirata" parte para sua comemoração habitual junto a seus colegas de time, após ter o seu tento validado, inicialmente, pela arbitragem que não percebe a infração.
Em seguida, quase que concomitância, jogadores do Internacional apontam que o mesmo haveria sido feito irregularmente, contrariando o já estabelecido.
O clima está formado. A situação se agrava com a demora na tomada de decisão do árbitro central e a participação de um outro ator alheio a arbitragem escalada, e portanto sem poder decisório sobre as ocorrências em campo, talvez o delegado da partida, avisando de que, através do replay televisivo, foi possível identificar a ocorrência da infração as regras do jogo, sendo o gol, irregular.
Para piorar a situação, o árbitro central volta atrás na sua decisão de conceder o gol, uma vez, especulando-se, informado.
Daí o problema se torna ainda maior e eu vou explicar o porque.
Apesar do gol ter sido feito através de subterfúgio que infringe as regras do jogo e do árbitro tê-lo validado, isto caracterizaria um "erro de fato", o que nada mais é do aquele em que se tem uma idéia errônea sobre o sentido exato de alguma coisa, o que leva a crer em uma realidade que não é verdadeira e, portanto, não passível de punição.
Por outro lado, quando volta atrás - o que pode ser feito sem problemas antes do reinício do jogo - baseado numa informação levantada em um replay da jogada na TV, fonte esta que não é permitida pelas regras do jogo e pelos regulamentos da International Board, da FIFA e de suas afiliadas, um fato mais grave surge, caracterizando um "erro de direito", ou seja, a tomada de decisão baseada em um recurso não permitido sob o ponto de vista legal, embora possa estar dentro de uma realidade verdadeira, sendo passível de punição ou até mesmo sua anulação.
A discussão na esfera esportiva a partir do fato ocorrido, denota um baixo padrão moral e do sentido do que é justo sobre a questão, restringindo-se a utilização ou não dos recursos tecnológicos e de multimídia durante os jogos de futebol para auxiliarem na tomada de decisão da arbitragem ou se seria certo ou não anular a partida, esquecendo-se do ato primário causador de tanta polêmica: a utilização da mão de modo simulado, dissuasivo, enganador para converter o gol.
Esta deveria ser a grande questão. Isto é o que deveria estar em voga.
Assim como as simulações de faltas sofridas, o uso do anti-jogo, a utilização de recursos não permitidos pelas regras do jogo ou de falhas no regulamento da competição para o benefício próprio e dos seus, este gol com a mão extrapola o contexto esportivo e repercute no convívio social diário, onde indivíduos e instituições permanecem em seus hábitos sem se dar conta da nossa fraqueza moral e do nosso senso do que é justo.
Numa outra situação bem parecida com este fato, em um outro país e com um outro jogador, prevaleceu o oposto. Ainda bem.