quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Moral da história



Confesso, não sei em qual dos meus blogs deveria postar este texto.

Embora trate sobre um tema no qual atuo profissionalmente e que me agrada - o esporte, o texto caminha, também, por uma questão mais abrangente que, igualmente, me fascina.

Façamos, então, o seguinte: tendo o esporte como enredo, como cenário representativo de um contexto social mais amplificado, proponho que façamos uma análise crítica sobre algumas alegações éticas e morais que acabam por transcender as regras e regulamentos do jogo, e até mesmo a legislação nacional.

O fato motivador ocorreu durante o jogo pelo Campeonato Brasileiro da Série A 2012, entre o Palmeiras e o Internacional.

Numa cobrança de escanteio, um dos principais jogadores do Palmeiras - Barcos, o "pirata" - utiliza-se de um recurso não permitido pela regra do jogo e faz um gol com a mão simulando um cabeceio.

Assim que a bola entra, o "jogador-pirata" parte para sua comemoração habitual junto a seus colegas de time, após ter o seu tento validado, inicialmente, pela arbitragem que não percebe a infração.

Em seguida, quase que concomitância, jogadores do Internacional apontam que o mesmo haveria sido feito irregularmente, contrariando o já estabelecido.

O clima está formado. A situação se agrava com a demora na tomada de decisão do árbitro central e a participação de um outro ator alheio a arbitragem escalada, e portanto sem poder decisório sobre as ocorrências em campo, talvez o delegado da partida, avisando de que, através do replay televisivo, foi possível identificar a ocorrência da infração as regras do jogo, sendo o gol, irregular.

Para piorar a situação, o árbitro central volta atrás na sua decisão de conceder o gol, uma vez, especulando-se, informado.

Daí o problema se torna ainda maior e eu vou explicar o porque.

Apesar do gol ter sido feito através de subterfúgio que infringe as regras do jogo e do árbitro tê-lo validado, isto caracterizaria um "erro de fato", o que nada mais é do aquele em que se tem uma idéia errônea sobre o sentido exato de alguma coisa, o que leva a crer em uma realidade que não é verdadeira e, portanto, não passível de punição.

Por outro lado, quando volta atrás - o que pode ser feito sem problemas antes do reinício do jogo - baseado numa informação levantada em um replay da jogada na TV, fonte esta que não é permitida pelas regras do jogo e pelos regulamentos da International Board, da FIFA e de suas afiliadas, um fato mais grave surge, caracterizando um "erro de direito", ou seja, a tomada de decisão baseada em um recurso não permitido sob o ponto de vista legal, embora possa estar dentro de uma realidade verdadeira, sendo passível de punição ou até mesmo sua anulação.

A discussão na esfera esportiva a partir do fato ocorrido, denota um baixo padrão moral e do sentido do que é justo sobre a questão, restringindo-se a utilização ou não dos recursos tecnológicos e de multimídia durante os jogos de futebol para auxiliarem na tomada de decisão da arbitragem ou se seria certo ou não anular a partida, esquecendo-se do ato primário causador de tanta polêmica: a utilização da mão de modo simulado, dissuasivo, enganador para converter o gol.

Esta deveria ser a grande questão. Isto é o que deveria estar em voga.

Assim como as simulações de faltas sofridas, o uso do anti-jogo, a utilização de recursos não permitidos pelas regras do jogo ou de falhas no regulamento da competição para o benefício próprio e dos seus, este gol com a mão extrapola o contexto esportivo e repercute no convívio social diário, onde indivíduos e instituições permanecem em seus hábitos sem se dar conta da nossa fraqueza moral e do nosso senso do que é justo.

Numa outra situação bem parecida com este fato, em um outro país e com um outro jogador, prevaleceu o oposto. Ainda bem.